O FOGO, O TERRITÓRIO KALUNGA E AS BRIGADAS DO PREVFOG/IBAMA


A parceria entre IBAMA e Associação Quilombo Kalunga ano após ano vem se fortalecendo. No ano de 2020, com a ampliação da organização quilombola e da criação do Conselho de Representantes de Comunidades foi possível aprofundar ainda mais a cooperação com a coordenação Estadual do Programa PREVFOGO, inclusive já há um grupo no WhatsApp.

Brigada Kalunga do Programa Prevfogo/IBAMA em temporada de combate a incêndios e manejo inteligente

Como desdobramentos desse trabalho conjunto, ampliou-se o número de brigadas do Programa PREVFOGO para 3 grupos. E entre 2018 e 2019 este avanço permitiu que ainda mais pudesse ser feito em termos de queimadas prescritas e prevenções extremamentes eficientes no combate ao fogo.


Nestes dois anos as roças Kalunga foram queimadas pelas equipes do PREVFOGO, evitando com isso que o fogo se espalhasse para localidades circundantes a elas. Ou seja, o fogo deixou de se espalhar para todos os lugares. Hoje as equipes do PREVFOGO orientam os Kalunga na escolha dos locais para fazerem as novas roças, procurando evitar a utilização das áreas de APP, por exemplo.

 A queima prescrita é realizada ainda no período de chuva nos chamados veranicos e estendendo-se até meados junho, quando ainda o solo retém um pouco de umidade, a fim de evitar que nesses locais, com muita matéria vegetal  ocorram incêndios florestais graves no período das secas.  Esta prática foi resultado da  fusão do conhecimento dos povos tradicionais com o uso do fogo e a preocupação do IBAMA de combater os incêndios florestais. 


O prevfogo/IBAMA conta hoje com três brigadas, de 15 brigadistas cada, todos quilombolas. Cada equipe também conta com uma caminhonete. Devido ao seu vínculo local e experiência tradicional uso do fogo, os brigadistas Kalunga possuem um largo conhecimento do território, das famílias, dos períodos do ano e dos locais onde  há mais ocorrência dos incêndios. Isso facilita muito o trabalho de prevenção e combate ao fogo.


CONCILIANDO A CIÊNCIA E O TRADICIONAl, EM RUMO DE NOVOS MODELOS DE MANEJO ECOLÓGICO.


Povos tradicionais são conhecidos sempre por sua integração e conhecimento profundo do meio natural que habitam, cultivando tradições que se equilibram com a natureza, de geração em geração. Por outro lado é possível sofisticar ainda mais tais cuidados se conseguirmos somar a tradição e o científico. Com a devida sensibilidade nessa área, muito pode ser conquistado.

O Programa Prevfogo Ibama tem por finalidade não somente combater incêndios ativos como também realizar eficientes trabalhos de prevenção



Frente a deterioração dos regimes de chuvas e outros problemas estruturais que vemos no cerrado hoje, o mundo Kalunga tem visto crescer cada vez mais o uso de técnicas importadas do agronegócio para as nossas roças tradicionais. Isso porque a facilidade de usar venenos “mata-mato”, tratores, etc promove extrema agilidade em um trabalho pesado e braçal ao qual nossos pais estiverem sujeitos por gerações. Mas isso tem o seu preço. Por quando utilizadas sem o manejo adequado, tais técnicas promovem a degradação permanente do meio vegetal e das nascentes.

São em cenários como este que o trabalho das Brigadas se mostram tremendamente preciosos. Ajudando a encontrar o balanço entre queimadas, delimitando áreas de proteção e analisando o equilíbrio entre as técnicas, os impactos causados e a capacidade regenerativa do meio.

Em termos mais práticos, um dos pontos ápices do trabalho das brigadas é a implantação de Aceiros (faixas imunes ao fogo). Com a implementação de tais proteções as grandes queimadas podem ser amplamente controladas e combatidas quando a época extrema da seca chegar, evitando que centenas de quilômetros de flora  e da fauna sucumbam ao fogo.

Durante a época das plantações, os aceiros são essenciais para evitar que as queimadas de roça venham a se tornar incêndios. É por meio deles que técnicas tradicionais de agricultura e modelos de preservação ecológicos encontram seu balanço.