3. Grupos de Aptidão Agrícola
Compreendem formas de utilização das terras de acordo com a sua aptidão – lavoura, pastagem plantada, silvicultura e/ou pastagem natural. Portanto, trata-se de uma maneira de se identificar o tipo de utilização intensiva mais favorável da terra de acordo com as características do solo, declividade bem como uso atual e compreende inicialmente 6 (seis) grupos quais sejam:
Grupos 1, 2 e 3 – estes, além da identificação para lavouras como tipo de utilização favorável, desempenham a função de representar, no subgrupo, as melhores classes de aptidão das terras indicadas para lavouras, conforme os níveis de manejo.
Grupos 4, 5 e 6 – apenas identificam tipos de utilização (pastagem plantada, silvicultura e/ou pastagem natural e preservação da flora e da fauna, respectivamente), independente da classe de aptidão.
4. Níveis de Manejo Considerados
Tendo em vista a adoção de práticas agrícolas que estejam ao alcance da maioria dos agricultores, num contexto específico, técnico, social e econômico, são considerados três níveis de manejo, visando a diagnosticar o comportamento das terras em diferentes níveis tecnológicos.
Nível de Manejo A – considerado primitivo – é baseado em práticas agrícolas que requerem a adoção de um baixo ou nenhum nível tecnológico, onde não há aplicações de capital para manejo, melhoramento e conservação das condições agrícolas das terras e das lavouras. Assim as práticas agrícolas podem ser desempenhadas basicamente pelo trabalho braçal, podendo ainda ser utilizada alguma tração animal com implementos agrícolas simples.
Nível de Manejo B – considerado pouco desenvolvido – baseia-se em práticas que requerem um nível tecnológico médio, caracterizado por alguma aplicação de capital e de resultados de pesquisas para manejo, melhoramento e conservação das condições agrícolas das terras e das lavouras. As práticas agrícolas estão ainda condicionadas principalmente ao trabalho braçal e a tração animal. Se usada máquina motorizada será para o transporte e beneficiamento da produção.
Nível de Manejo C – considerado desenvolvido – tem como base práticas agrícolas que requerem um alto nível tecnológico, caracterizado pela aplicação intensiva de capital e de resultados de pesquisas para manejo, melhoramento e conservação das condições agrícolas das terras e das lavouras como a aplicação de fertilizantes e corretivos agrícolas. A moto mecanização é usada nas diversas fases da operação agrícola.
Assim as letras A, B ou C, que acompanham os algarismos referentes aos três primeiros grupos – 1, 2 e 3 que indicam lavouras – expressam a aptidão das terras para lavouras em pelo menos um dos níveis de manejo considerados. Cada um destes níveis de manejo pode aparecer em letra MAIÚSCULA – correspondente a APTIDÃO BOA – em letra minúscula – correspondendo à aptidão regular – ou em letra minúscula e entre parênteses – que corresponde a aptidão restrita.
Para os grupos 4 e 5, que se referem aos outros tipos de utilização menos intensivos como pastagem plantada, silvicultura e/ou pastagem natural respectivamente a indicação da aptidão é feita de modo similar, em maiúsculas, minúsculas e minúsculas entre parênteses, utilizando-se as letras P, S e N, que indicam Pastagem, Silvicultura e Pastagem Natural, respectivamente. O grupo 6 (seis) compreende exclusivamente terras destinadas a preservação da fauna e da flora.
O quadro 02 possibilita entender as possibilidades de determinação de subgrupos de aptidão agrícola com base no tipo de utilização por meio de suas diversas formas e manejo e nas classes de aptidão.

5. Subgrupos de Aptidão Agrícola das Terras
Os Subgrupos de Aptidão Agrícola são o resultado conjunto da avaliação da classe de aptidão relacionada com o nível de manejo, indicando o tipo de utilização das terras.
- CLASSE BOA: terras sem limitações significativas para a produção sustentada de um determinado tipo de utilização, observando as condições do manejo considerado. Há um mínimo de restrições que não reduzem a produtividade ou os benefícios expressivamente e não aumentam os insumos acima de um nível aceitável. Esta classe é indicada pela letra maiúscula A – se no nível de manejo a – maiúscula B se no nível de manejo b – e maiúscula C se no nível de manejo c.
- Classe regular: terras que apresentam limitações moderadas para a produção sustentada de um determinado tipo de utilização, observando as condições demanejo considerado. As limitações reduzem a produtividade ou os benefícios, elevando a necessidade de insumos, de forma a aumentar as vantagens globais a serem obtidas do uso. Ainda que atrativas essas vantagens são sensivelmente inferiores àquelas auferidas das terras de classe boa. Esta classe é indicada pelas letras minúsculas a – se no nível de manejo a; b – se no nível de manejo b e c – se no nível de manejo c.
- (Classe restrita): terras que apresentam limitações fortes para a produção sustentada de um determinado tipo de utilização, observando as condições de manejo considerado. Essas limitações reduzem a produtividade ou os benefícios, ou então aumentam os insumos necessários, de tal maneira que os custos só seriam justificados marginalmente. Esta classe não possui restrição no nível de manejo a, somente nos níveis de manejo b e c. É indicada pela presença de pelo menos uma destas duas letras entre parêntese.
- Classe inapta: terras que apresentam condições que parecem excluir a produção sustentada do tipo de utilização em questão. Ao contrário das demais, esta classe não é representada por símbolos. Sua representação é feita pela ausência das letras no tipo de utilização considerado.
As classes expressam a aptidão agrícola das terras para um determinado tipo de utilização, com um nível de manejo definido, dentro do subgrupo de aptidão. Elas refletem o grau de intensidade com que as limitações afetam as terras, sendo definidas em termos de graus, referentes aos fatores limitantes mais significativos.
No exemplo 1 abC, o algarismo 1, indicativo do grupo das lavouras, dá preferência e representa a melhor classe de aptidão dos componentes do subgrupo, uma vez que as terras pertencem à classe de aptidão boa no nível de manejo C (grupo 1); classe de aptidão regular, nos níveis de manejo a e b (grupo 2). Em certos casos, o subgrupo refere-se somente a um nível de manejo – 3(c), por exemplo – relacionado a uma única classe de aptidão agrícola.
6 – DOS PRODUTOS ELABORADOS
Tendo como referência o mapa de solos utilizado, bem como os mapas de declividade e de cobertura e uso do solo foram definidas 11 classes de aptidão agrícola das terras na área do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga. Deste total seis classes possuem alguma aptidão agrícola para lavouras, sendo duas classes com aptidão agrícola boa para lavouras em pelo menos um dos níveis de manejo; duas com aptidão agrícola regular para também pelo menos um dos níveis de manejo e outras duas com aptidão agrícola restrita aos níveis de manejo b e c e somente c. Das cinco classes restantes, três possuem alguma aptidão agrícola para pastagem, uma para silvicultura e/ou pastagem natural e a última sendo recomendada apenas para preservação da fauna e da flora, conforme descrito na legenda a seguir.
1aBC => terras com aptidão agrícola regular para lavouras no nível de manejo a; e BOA nos níveis de manejo B e C;
1abC => terras com aptidão agrícola regular para lavouras nos níveis de manejo a e b; e BOA no nível de manejo C;
2abc => terras com aptidão agrícola regular para lavouras nos níveis de manejo a, b e c;
2bc => terras com aptidão agrícola regular para lavouras nos níveis de manejo b e c;
3(bc) => terras com aptidão agrícola regular restrita para lavouras nos níveis de manejo b e c;
3(c) => terras com aptidão agrícola regular restrita para lavouras no nível de manejo c;
4P => terras com aptidão BOA para pastagem plantada;
4p => terras com aptidão regular para pastagem plantada;
5(n) => terras com aptidão restrita para pastagem natural;
5(sn) => terras com aptidão restrita para silvicultura e/ou pastagem natural;
6 => terras sem aptidão agrícola e destinadas à preservação da fauna e da flora.
O mapa de aptidão agrícola das terras é apresentado por meio da Figura 05. Já por meio da Tabela 01 é possível observar a área de abrangência de cada uma em termos absoluto (ha) e relativo (%). Por meio do mapa é possível perceber que as terras com aptidão agrícola boa ou regular se distribuem principalmente nas áreas mais elevadas e planas com o predomínio de Latossolo Vermelho Distrófico. Outras áreas com esse predomínio correspondem às superfícies mais rebaixadas e planas que tendem a acompanhar os canais de drenagem de maior porte.
Já as terras sem aptidão para agricultura e destinadas a ocorrência de pastagens plantadas ou naturais e, principalmente destinadas à preservação da fauna e da flora se distribuem nas zonas de transição entre as superfícies mais elevadas e aquelas mais rebaixadas, em geral com a ocorrência de serras, bem como terrenos amplamente dissecados. São terrenos com o amplo predomínio de solos pouco desenvolvidos, portanto rasos e naturalmente de baixa fertilidade e que, em geral, são inapropriados para práticas agrícolas.

Classe de Aptidão Agrícola | Área – ha | Área relativa – % |
1aBC – aptidão regular para lavouras no nível de manejo a; e boa nos níveis de manejo B e C. | 28486,28 | 10,87 |
1abC – aptidão regular para lavouras nos níveis de manejo a e b; e boa no nível de manejo C. | 29640,27 | 11,31 |
2abc – aptidão regular para lavouras nos níveis de manejo a, b e c. | 17556,81 | 6,70 |
2bc – aptidão regular para lavouras nos níveis de manejo b e c. | 7818,57 | 2,99 |
3(bc) – aptidão restrita para lavouras nos níveis de manejo b e c. | 2703,36 | 1,03 |
3(c) – aptidão restrita para lavouras no nível de manejo c | 6411,23 | 2,45 |
4P – aptidão boa para pastagem plantada. | 2982,28 | 1,14 |
4p – aptidão regular para pastagem plantada. | 2203,50 | 0,84 |
5(n) – aptidão restrita para pastagem natural. | 17267,11 | 6,59 |
5(sn) – aptidão restrita para silvicultura e/ou pastagem natural. | 24681,73 | 9,42 |
6 – Sem aptidão agrícola e destinadas à preservação da fauna e da flora. | 122.248,5587 | 46,66 |
Área total | 261.999,6987 | 100,00 |
Pelas classes de aptidão agrícola e suas respectivas áreas de ocorrência é possível perceber que pelo menos em 21% da área do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga predominam terras com aptidão agrícola boa nos níveis de manejo B e C. Cerca de 10% possui aptidão agrícola regular em pelo menos um dos níveis de manejo. Outros cerca de 4% possuem aptidão agrícola regular restrita, isto é, terras que, para a agricultura, só podem ser utilizadas nos níveis de manejo b e c. Já em relação às terras com aptidão boa, regular ou restrita para pastagem natural ou plantada compreendem cerca de 8%. Em geral são terrenos planos, mas que possuem solos de baixa fertilidade natural tais como Argissolo Amarelo e Neossolo Regolítico. Em relação às áreas recomendadas para a preservação da fauna e da flora, estas compreendem a maior parte da área do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, cerca de 56% da área total. Essas características resultam, principalmente, das condições de relevo, os quais se apresentam acidentados, formando serras. Tal resultado ratifica a vocação da área do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga para a preservação e atividades relacionados ao turismo ecológico.
7 – Da estruturação do banco e espacialização no Sistema de Informações Geográficas
Considerando o estágio do processo de mapeamento, bem como os produtos lá desenvolvidos ressalta-se que os mesmos se encontram na forma de mapas – formato JPEG – e em estrutura vetorial – formato SHP ESRI, disponibilizados no banco de dados da Associação Quilombo Kalunga. Esses arquivos estão adicionados a outros já elaborados podendo ser acessado no Sistema de Informações Geográficas da Associação Quilombo Kalunga.
REFERÊNCIAS
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LEPSCH, I. F. Formação e Conservação dos Solos. São Paulo: Oficina de Textos, 2002, 178p.
RAMALHO, F. A; PEREIRA E. G; BEEK, K. J. Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. Brasília: SUPLAN/EMBRAPA-SNLCS, 1978, 70p.
RAMALHO A. F; BEEK, K. J. Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. Rio de Janeiro: EMBRAPA – CNPS, 1994. 65p.
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SOIL TAXONOMY. A Basic System of Soil Classification for Making and Interpreting Soil Surveys. Malibu, 1988. 75p.
SOUZA, J.M; FERRARI, R; DUARTE, M; RAMIREZ, M. Uma arquitetura organizacional para Sistemas de informação Geográfica Orientada a objetos, In: CONFERÊNCIA LATINO AMERICANA SOBRE SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS, São Paulo, 1993.
UNITES STATES. Department of Agriculture. Soil Survey Manual. Washington, 1951. 503p.
VALLADARES, G. S; QUARTAROLLI, C. F; HOTT, M. C; MIRANDA, E. E; NUNES, R. S; KLEPKER, D; LIMA, G. P. Mapeamento da Aptidão Agrícola das Terras do Estado do Maranhão. In: Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento – Embrapa. Campinas, S. P: 2007. 27p.